Como é a Liderança em uma crise
Pela ação que se começa
Por: Fabian Kienbaum, CEO da Kienbaum
Estamos passando por uma crise que está mudando o mundo. O que estamos buscando é a saída. Para encontrá-la, precisamos refletir sobre o passado – apenas algumas semanas. Como era antes? Normalidade, alegria, sorte? Ou, se formos honestos, uma crise também não surgia há tempos? Até agora, nossa aspiração tem sido com frequência Mais alto – Mais Rápido – Adiante. Mas nós suspeitamos que não era um modelo de vida que desejávamos.
E agora essa interrupção. Talvez isso acabe. Talvez depois não possamos e não queiramos voltar à nossa normalidade habitual. De acordo com o futurologista Matthias Horx, cujo texto está aparecendo vagando pela internet, nada será o mesmo após a crise (veja o artigo em horx.com). Sua versão do futuro nos convida a pensar, assim como o podcast “O Oitavo Dia”, com a jornalista e correspondente de guerra Duzzen Tekkal, em que ela nos incentiva a entender todos os dias como se fossem uma crise.
O Fim da certeza
Crise, todos os dias. Eu acho que o desafio é lidar com isso. Na edição atual do jornal semanal “Die Zeit”, os italianos têm a palavra, descrevendo suas experiências em torno dos efeitos da crise do coronavirus. São versões comoventes que, apesar de todos os traços do destino, expressam um retorno à beleza da vida. Um retorno ao que é realmente importante: saúde, família, amigos, natureza, solidariedade.
A certeza de que ganharemos dinheiro suficiente para viver se trabalharmos agora deu lugar à incerteza de que talvez não vamos conseguir usar tudo o que pudermos. A certeza de que há familiares e amigos com os quais podemos contar deu lugar à incerteza de que não podemos mais abraçar essas pessoas por enquanto. A certeza de que temos boas chances de permanecermos saudáveis por um longo tempo é abalada pelas estatísticas de mortalidade e imagens de falecidos que saltaram das telas e jornais e atingiram nossos corações.
Várias vezes nós proclamamos O Fim da Certeza. Como, por exemplo, na era da digitalização, que vem acontecendo há uma geração e parece ser abrupta mas na realidade é suave. Ou quando se tratava de mudanças climáticas, que podíamos assistir a um ponto sem volta. Tudo isso nos pareceu acontecer de repente e com força, mas na realidade nos manteve cada vez mais ou cada vez menos ocupados, ano após ano. Em qualquer caso, isso pode ser adiado. Pelo menos por alguns dias.
Agora estamos falando sobre uma doença, que foi diagnosticada pela primeira vez em Dezembro de 2019 e desde então se tornou uma pandemia. Portanto não tínhamos 30 anos, mas apenas 3 meses para aceitar o fim das velhas e antigas certezas. Nada será como era antes, e se continuar dessa maneira, a impressão geral também nunca mais será a mesma. O medo prevalece.
Liderança começa com autonomia
Estamos lutando contra a crise. Todos os governos estão lutando contra a crise nos dias atuais, quando procuram leis válidas que permitem responder adequadamente diante da crise. Os pesquisadores se mobilizaram, e estão procurando arduamente pela cura do vírus. E nós, consultores, também estamos lutando contra a crise, quando buscamos os instrumentos certos para pelo menos parar a crise no contexto econômico. É nosso dever apoiar com toda nossa determinação, conhecimento e criatividade. E como empresário da família, acrescento: É minha preocupação pessoal poder colocar o que construímos nas mãos da próxima geração.
Como empresa de consultoria, agora estamos preocupados em harmonizar o conhecido com o novo. “New Work” (novo trabalho) é um exemplo. Não muito tempo atrás a liderança transformacional e estratégica era considerada a doutrina do momento, durante a crise desenvolvemos pessoas com disposição para aceitar mais rapidamente a liderança diretiva do que em condições normais (veja o estudo Kienbaum StepStone sobre liderança na revolução digital). O sistema “Todos sigam meu comando” é a base de todas as unidades militares cuja função é gerenciamento de crises.
No entanto, apesar das normas diretivas, a responsabilidade individual ainda existe. Sim – e está crescendo. Vimos isso na discussão sobre o toque de recolher: liderança aqui não significa proibir a saída, mas impor restrições nas quais as pessoas podem decidir por si mesmas como proceder. Informações e transparência são fundamentais para estimular o comportamento certo. Essa é a única maneira de garantir que a maioria faça a coisa certa. O tópico liderança, graças à informação, parte da responsabilidade social. E na crise do coronavirus, diante das condições de distanciamento e home office, somos ainda mais desafiados do que antes para nos organizarmos. Essa é a única maneira de continuarmos atuando como equipe e sustentar/manter os processos apesar do distanciamento. Controle é bom, confiança é melhor.
Um para o outro em vez de um com o outro
Para que isso tenha sucesso, precisamos de dirigentes que nos dêem força. A solidariedade comunitária pode ser um grande apoio. Atualmente nós estamos vivenciando essa humanidade de maneira impressionante quando observarmos, por exemplo, o portal de ajuda para vizinhos. Ou quando mostramos consideração pelos idosos em nossa sociedade. A união, tanto no contexto social quanto profissional, pode nos apoiar e ajudar a lidar com nossos medos. Esse sentimento também pode ser sentido em nossa empresa. Quando as coisas ficam difíceis, sabemos que defendemos um ao outro “apenas” trabalhando juntos.
Além disso, vivenciamos outra coisa na crise. Tem a ver com a desaceleração imprescindível, que inevitavelmente nos permite refletir sobre nossos princípios. O que eu quero? Qual é o meu propósito? Encontramo-nos testando novos estilos de vida e vivemos para aprender a apreciar novas formas de trabalhar. Não é impressionante poder ler todos os relatórios de experiência sobre home office e videoconferência e poder comparar suas próprias peculiaridades? A nova reflexão nos ajuda a reconhecer que podemos reaprender o conhecido e testado: ouvir, por exemplo, ou estar realmente focado. De repente a crise não paralisa mais, mas nos dá confiança. De volta a si mesmos muitos conseguem recarregar as energias e recuperar a estabilidade por si próprios. A solução para o problema está em nós mesmos.
Em seu trabalho “Theory U” descreve Otto Scharmer “o eu como a ferramenta de liderança mais importante disponível”. Ele se preocupa com a qualidade da nossa atenção, que anda de mãos dadas com a abertura do pensamento, sentimento e vontade. No entanto, a formação da vontade é associada à voz do medo. Enfrentar esse medo de maneira corajosa e poderosa por meio de forte autogerenciamento e realinhar sua própria bússola, em direção a uma nova filosofia na qual o tempo assume um papel diferente, é a grande oportunidade da crise. Como Goethe disse uma vez: a ação é o elemento condutor.
* Esse texto foi publicado originalmente no Blog da Kienbaum Alemanha